sábado, 17 de setembro de 2011

Carta Capital - Profissão: filho de Deus


Profissão: filho de Deus

Autoproclamado reencarnação de Jesus, Inri Cristo desce a um bar de rock no ABC para falar sobre aborto, Dilma e o fim do mundo. Por Tory Oliveira
Paramentado com coroa de espinhos, túnica branca e sandálias, “Jesus Cristo” subiu ao palco na noite de quinta-feira 25 para responder perguntas de ovelhas desgarradas, aglomeradas em um pub de São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Até então embalado por AC/DC e The Doors, o público na faixa dos 25 anos recebeu a curiosa figura de maneira entusiasmada, em ritmo de Roberto Carlos: “Inri Cristo, Inri Cristo, Inri Cristo, eu estou aqui!”.
Entre revelações e goles na cerveja Bauhaus, o autoproclamado “emissário do Pai” declarou, na coletiva de imprensa realizada antes do evento, que votou na presidenta Dilma Rousseff, que é a favor do aborto, contra o dízimo e, para alívio de todos, que o mundo não sofrerá com um apocalipse em 2012. Por fim, desabafou: é um incompreendido.
Nascido no interior de Santa Catarina em 1948, Inri Cristo vive como messias desde 1979, quando teve uma revelação divina enquanto jejuava em Santiago… mas não a de Compostela, e sim a do Chile. Ao ouvir o chamado de Deus, caiu e quebrou o nariz. Foi quando Iuri Thais tornou-se definitivamente Inri Cristo. Em 1982, fundou a Suprema Ordem Universal da Santíssima Trindade (SOUST) em meio a um “ato libertário” que acabou em prisão. Inri interrompeu uma missa católica em Belém do Pará e afirmou ser o verdadeiro Cristo. De lá para cá, o senhor alto, de aspecto frágil e olhos azuis colecionou seguidores, aparições em programas de auditório, entrevistas, polêmicas e processos. E não se cansa de repetir: “Ninguém é obrigado a crer, mas isso não muda a minha realidade”.
Depois de viajar pelo mundo e viver em Belém e Curitiba, Inri instalou-se com cerca de 30 seguidores na capital federal, em uma chácara de dois hectares. Ele não cobra cachê pelas apresentações e afirma sobreviver exclusivamente de doações feitas por admiradores “beneméritos”, inspirados pelo “Pai”. Apesar disso, critica duramente a contribuição obrigatória cobrada por outras igrejas, prática que classifica como “crime” e “chantagem”.
Acostumado à pregação, Inri fala quase sem tomar fôlego sobre os mais variados assuntos.  Questionado sobre sua preferência política, declarou que votou em Dilma por conta de sua postura inicialmente a favor do aborto. Para governador, apostou no petista Agnelo Queiroz para resolver a questão da falta de asfalto em frente a sua rua.
Acompanhado do séquito de seguidoras, apelidadas de “inriquetes”, Inri Cristo deslocou-se de Brasília, onde vive atualmente, a pedido do proprietário do Retrô Pub, Marcelo Zampieri. O objetivo, de acordo com Marcelo, era trazer uma figura polêmica para ser sabatinado pelos frequentadores do bar, que existe desde 2009. Aos interessados, foram colocados à venda 100 ingressos, com o valor de R$60.
Ao longo de quase uma hora, Inri foi questionado por um grupo inicialmente exaltado de cerca de 30 pessoas, que perguntavam sua opinião sobre o Vaticano, religião, rock n’ roll e Corinthians. A mediação ficou por conta do cantor de rockabilly Carlos Zoffo,  que a princípio estaria fantasiado de diabo. A equipe de Cristo, entretanto, vetou a brincadeira.
Antes de começar a falar, Inri começou uma prece com  seu estranho sotaque, arrancando gargalhadas abafadas do público. Depois, respondeu tudo com um discurso fervoroso, às vezes confuso, mas surpreendentemente libertário. Ao ser perguntado sobre sexo antes do casamento, declarou que, apesar de viver em castidade desde 1979, acredita no livre-arbítrio de cada um. “A hora de fazer sexo quem decide é o próprio indivíduo”. Os roqueiros, que talvez esperassem um espetáculo mais cômico, esvaziaram o recinto depois de meia hora de pregação. Várias vezes, o mediador precisou pedir silêncio para as rodas de conversa que se sobrepunham ao discurso religioso. Um roqueiro, mais revoltado, declarou: “Para ver missa, eu vou na Igreja”. E berrou: “Eu quero saber o que ele acha do mijo, vou mijar!”.
O clima morno voltou a esquentar quando Inri provou um copo de cerveja, oferecido por um dos questionadores. Antes disso, só bebera de uma garrafinha estendida de tempos em tempos por uma das Inriquetes. Por volta da 1h30, Inri encerrou a sabatina, dando espaço para suas seguidoras entoarem “versões místicas” de hinos do rock n’ roll.
Inriquetes cantando a versão mística de ‘Breaking the Law’ da banda Judas Priest:

Em clima de karaokê, Asusana, Alara e Assinuê (todas as inriquetes são rebatizadas com nomes com “A”) cantaram melodias de Judas Priest, Manowar e Amy Winehouse, com letras devidademnte modificadas para louvar ao Senhor. Apesar dessas e outras versões com letras “alternativas” serem hits no Youtube, a animação ficou quase que exclusivamente por conta de um funcionário do Retrô Pub. Aos 22 anos, Gabriel Loyola, apelidado e fantasiado de Jesus, balançou os longos cabelos e fez um indefectível air guitar durante as músicas.
Sem fazer milagre ou transformar água em vinho, Cristo foi embora com ar cansado, mas lembrou-se ainda de abençoar o rebanho disperso, que esvaziava as últimas garrafas de cerveja importada e Jack Daniels nas mesas do bar.

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